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Faixas:
01 Poesia
02 Debate Maior
03 Curador De Cobra
04 Adágio
05 Akará  
06 Driblando A Morte   
07 Curador De Rastro    
08 Bordel Artesanal   
09 Chorrilho   
10 Professor Subaé  
11 Serapião E Gustavo  
12 Manuel Faustino 

Sobre Antônio Vieira
(informações do Portal de Literatura de Cordel)

Antônio Vieira, baiano de Santo Amaro da Purificação, é compositor, poeta e cordelista. Seu trabalho denominado “O Cordel Remoçado”, une música e literatura popular numa linguagem simples e contemporânea. Suas histórias e seus personagens retratam a forma de viver criativa e peculiar do povo brasileiro, tendo o seu foco na cultura nordestina. Nas suas andanças pelo Brasil o artista foi catalogando diversas histórias, contos e causos cujos ele presenciou e vários que lhes foram relatados. Da sua juventude na terra dos canaviais e do bonde, o cordelista traz preciosas vivências que transformou em versos trágicos, engraçados e surpreendentes.

O trabalho do cordelista Antônio Vieira é conhecido em diversos países, principalmente nos de língua portuguesa e dentre estes, em especial, Portugal – onde foi convidado pela companhia de teatro Cena Lusófona, no ano de 2004, para fazer apresentações e publicar um de seus livretos, o cordel “Popó do Maculelê de Santo Amaro”.

Em Salvador, na Bahia, onde reside, o autor já lançou dois livros – O Cordel Remoçado: histórias que o povo conta/volumes 1 e 2 –, dezenas de livretos de cordel, gravou o Cd “O Cordel remoçado”, gravou um especial para a TVE-Bahia com entrevista e performance do show “O Cordel Remoçado”; além de participar de programas televisivos voltados para a cultura popular e entrevistas para diversos meios de comunicação impressos e virtuais.

Em 2004, o cordelista consolidou a importância do seu trabalho ao ser convidado e diplomado como membro efetivo da Academia de Cultura da Bahia, assumindo assim uma cátedra nesta importante instituição que reúne personalidades de notório significado para a discussão acerca da cultura no Estado da Bahia.

Outro ponto que marca o trabalho deste cordelista, são suas constantes intervenções nas universidades, escolas e instituições ligadas a cultura do Estado da Bahia e do Brasil, participando de discussões, palestras e ministrando cursos; todos circundando o enfoque histórico-social do cordel e sua importância para a formação dos indivíduos.

Alexandre Pelegi



Antônio Vieira
Cordel Novo

Antônio Vieira usa chapéu: na cabeça e no nome. O circunflexo é coisa de registo; o adereço capital é opção de artista, marca de criador de cordel de tipo novo — remoçado, diz —, que propõe pensar lógico, transformar. 
Mordeu a pedra. À volta, todos, que poucos eram, suspensos no alvitre. Ouro! — assegurou Pedrão, garimpeiro velho. E no lugar donde esta veio, tem muitas! Logo abraços, implosão de alegria, júbilo amordaçado: para não despertar suspeita. 
Um caso nascido de acasos. Primeiro a ida da pequena equipa de topografia para o cu de Judas, demarcar terrenos. Depois o mergulho à tardinha do agrimensor no rio, a pepita no fundo. A reluzir. Ouro! E no lugar donde esta veio, tem muitas! 
Valeu a pena demandar Araguaína, contactar Pedrão, logo logo companheiro de agrimensores rendidos ao garimpo, ouro fácil, à superfície. Missão a enricar, no rio não tardou a companhia do dono da fazenda, dos donos das fazendas. E outros. Muitos. Mais, mais. Vindos cada vez de mais longe. 
Nascia o garimpo na Serra Pelada! 
Antônio Vieira conhece em detalhe a febre do ouro que fez arder o Brasil na década de 80: jornalistas, médicos, intelectuais, vaqueiros, burocratas, operários, deserdados, marginais, caldo humano a borbulhar na cratera, goelas esgalgadas a engolir a turba. Fez cordel: 

Os barrancos desabavam 
Só via gente morrendo 
Ou ficavam soterrados 
Ou escapavam fedendo 
Alguns ficavam pra sempre 
Traumatizados, doentes 
Do garimpo maldizendo. 


Aprendeu casos de gente que bamburrava eufórica, atraindo pistolagem. Soube de muito garimpeiro morto, por não vender pepita ao governo. Apurou números: «A produção acumulada de Serra Pelada até Setembro de 1984 foi da ordem de trinta e três toneladas de ouro.» Catou e guardou histórias, sem cair na tentação do garimpo: «O meu ouro era outro». 

Várias classes de pessoas 
O garimpo faz nascer 
Prostitutas, pistoleiros 
Quem rouba para viver 
Garimpeiro bamburrava 
O ladrão o tocaiava 
Só sorte para não morrer! 
No garimpo, a crueldade 
É coisa de assustar 
Não se tem dó de ninguém 
Não adianta gritar 
Triste de quem adoece 
Se for pra morrer falece 
Só Deus lhe pode salvar. 



Me coma! 
Antônio Vieira nasce na heróica e benemérita cidade de Santo Amaro da Purificação, no estado da Bahia, em 1949. Filho mais velho de uma prole de seis, cedo histórias, casos, dramas, lhe preenchem a vida. 
Desde menino, na venda do pai, escuta narrativas. Conhece Ferrabrás, irmão de Floripes e filho de Balaão, pela voz de Donata, «uma senhora contadeira de histórias, branca, cabelo comprido, tipo uma portuguesa, magrinha». Terça armas ao lado de Oliveiros e Roldão, às ordens de Carlos Magno. Se arrepia com «caso de bichos, histórias mal assombradas, fantasmas e reis». 
Na escola, «todo o mundo contava coisas, como prática normal, recreativa. Histórias decoradas, de lobisomem e tal, às vezes em verso». Entre o jantar e a deita, «era jogar pião, fabricar carrinho, correr picula, que é o procura-procura», jogo das escondidas, como em Portugal se diz. 
Crescendo, aos 13 anos aprende violão. E histórias da História. Pasma com as pregações de António Conselheiro em 1889, «o Bom Jesus prometendo montanhas de cuscus e rios de leite para todos». Um caso que poucos conhecem, lamenta: «Conselheiro e a sua gente se instalaram numa fazenda abandonada na região que hoje se chama Monte Santo, fundaram a povoação de Canudos. Os fazendeiros, sem mão-de-obra, pressionaram as autoridades para acabar com aquilo». Os ataques foram todos repelidos. «Até que, após três anos de guerra, o Ministro do Exército à frente das tropas arrasou Canudos — 20 mil mortos: homens, mulheres e crianças». 
Na vida, aprende Feliça, «a prostituta que ensinou uma geração inteira»: 

O rapaz vinha de longe 
Para comer a negona 
Um saía outro entrava 
Ela deitada, abertona 
Os meninos de família 
Na porta, faziam fila 
E ela dizendo: — Me coma! 
Não era de meretrício 
Morava numa casinha 
Atrás de uma avenida 
Porta de frente pra linha 
Tinha o olhar meloso 
Um trejeito apetitoso 
Era do tipo galinha 


Repara em Popó do Maculelê «guiando trole puxado a burro, que trazia as bagagens dos passageiros do cais do porto (no Conde) para o centro da cidade». Retém os ecos da fantástica epopeia do capoeirista Besouro, morto mas nunca vencido, «nome manchado proposital e preconceituosamente pela tarja da marginalidade». 
Atreve-se nas primeiras quadras, caligrafia indecisa em papel de embrulho, relato do caso de um enfermeiro, que — diariamente e por mais dum ano — vê correr para aplicar injecção numa moça, «doente com uma gripe, muito bonita». Ufano, mostra a criação aos catraios mais velhos: «Incinere isso, rapaz! Você é maluco?!». 
Se Antônio tendia para a malandragem nas letras, também Santo Amaro fervia de samango, mariola «a emprenhar vizinha». E outros casos. Conta que na cidade havia (e há) duas bandas de música, rivais: a Lira (uniforme cinza e vermelho) e a Apolo (uniforme caqui — verde claro — e vermelho). «Pois uma vez, preso um sujeito sem qualquer razão, o delegado queria dar surra nele. À falta de motivação lembrou-se das bandas»: 
— Me diga, você torce por qual banda? 
— Doutor, eu gosto das duas. 
— Um homem tem de se decidir! 
— Gosto da Lira... 
— Tragam o chicote cinza! — ordenou o delegado. «E meteram o chicote cinza no meio da sova». 
— Doutor, eu torço por Apolo! 
— Tragam o chicote caqui! 
— Eu torço pelas duas, doutor! 
— Juntem os dois! 
Caso verídico? «Eu já peguei o bonde andando» — assegura. «Isto foi-me contado pela minha família». O real e a ficção: dois chicotes. Neste entrosado, António se fez homem, temperou ideias, descobriu o lado que lhe estava reservado na barricada social. 


Semear consciência 
Um dia, a vida empurra-o para fora de Santo Amaro, joga-o para o imenso Brasil. Anos de andanças, mais de vinte: Feira de Santana, Goiás, Brasília, Imperatriz do Maranhão... E, enfim, regresso recente a chão baiano: Salvador. 
Nesta peregrinação, estuda, serve o exército, tira curso técnico de agro-pecuária, constitui família. Nos quadros do Ministério da Agricultura, entre outros afazeres, «acompanhei o assentamento de populações nas zonas rurais». Explica: No tempo do governo militar, houve uma reforma agrária, «de cima para baixo, de Brasília para o campo». Foram distribuídas terras, «fazendeiros, os antigos posseiros, a disputarem solo fértil, nas margens dos rios; nos outros lugares ficava gente sem terra, vinda da cidade». 
Antônio integrava uma equipa técnica «de vistoria e preenchimento de laudos das propriedades, que acompanhava a subdivisão da terra e o assentamento das pessoas». O epicentro do sismo! «Nesse processo se geram corrupções, invasões, pistolagem, um camarada ocupa uma terra, tem direito à vizinha, aí manda assassinar o cidadão para poder...». A selva! Também geografia privilegiada para caçar histórias, coleccionar casos, conhecer os homens, a sociedade: «A história dos menos favorecidos sempre me chamou a atenção. Sempre quis compreender o porquê das diferenças sociais». 
A terra e o gado, a causa agrícola, abrem-lhe horizontes, mostram-lhe o Brasil social, visto de baixo. Desvendam-lhe espaços. Extasia diante de Alto Paraíso, «uma das regiões mais lindas do mundo». Conhece Pedro Afonso, cidade entre os rios Sono e Tocantins, a sua fauna: «Dá peixe de 100 quilos, o Filh...
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